Com o surgimento dos
sistemas de cultura na fazenda, os protocolos de
tratamento seletivo de mastite clínica tornaram-se mais acessíveis nas fazendas leiteiras. Isso possibilitou grande avanço na tomada de decisões de tratamento de mastite clínica, uma vez que cerca de 95% dos casos clínicos são leves e moderados e somente 5% são graves (com necessidade imediata de
tratamento com antibiótico).
Para os casos leves e moderados, é possível coletar uma amostra do quarto afetado e, em 24 horas, obter os resultados da cultura na fazenda. Na maioria das fazendas, em média 40% dos casos leves e moderados não tem isolamento de agente causador e, portanto, não há qualquer benefício do tratamento com antibióticos pois há alta taxa de cura espontânea. Isso significa uma oportunidade de reduzir o uso desnecessário de antibióticos e os custos da mastite na fazenda.
Em relação aos casos de mastite clínica causados por
bactérias Gram-negativas, a recomendação geral também é de não tratamento com antibiótico e aguardar a cura espontânea por alguns dias. Por outro lado, vacas com mastite clínica causada por
bactérias Gram-positivas (principalmente os gêneros
Staphylococcus e
Streptococcus) têm recomendação de tratamento com antibiótico intramamário, pois geralmente a cura espontânea destes agentes é muito baixa.
Vale destacar que os sistemas mais simples de
cultura na fazenda somente identificam as bactérias causadoras em três grupos: negativo (sem isolamento bacteriano),
Gram-negativo e Gram-positivo. Nestes casos, não é possível identificar o gênero ou espécie bacteriana e, assim, a tomada de decisão de tratar ou não com antibióticos é baseada no grupo.
Por outro lado, sistemas mais modernos, nos quais é possível identificar o gênero ou espécie dentro dos grupos de Gram-positivos (
Streptococcus uberis,
Streptococcus agalactiae/
dysgalactiae,
Staphylococcus aureus) e Gram-negativos (
Escherichia coli,
Klebsiella spp.) têm a vantagem de
permitir maior flexibilidade nos protocolos de tratamentos, uma vez que dentro do grupo das bactérias Gram-negativas, há estudos que indicam benefício do tratamento com antibióticos de casos de
Klebsiella, mas que não há
benefício do tratamento de casos de mastite causados por
Escherichia coli.
Entretanto, ainda há dúvidas sobre os benefícios de tratar de forma distinta os casos de mastite clínica leves em relação aos casos moderados que são causados por bactérias Gram-negativas.
Um estudo recente comparou o tratamento de casos de mastite clínica leve e moderada causadas por bactérias Gram-negativas com
antibiótico intramamário a base de
ceftiofur (2 dias ou 5 dias) em relação ao não tratamento com antibióticos (grupo controle não tradado). O estudo foi desenvolvido em 3 fazendas, nas quais foram selecionados 423 casos leves e moderados com isolamento de bactérias Gram-negativas. As vacas foram avaliadas durante um período de 28 dias após o tratamento para avaliação da cura clínica e bacteriológica, dias para cura clínica e novas infecções, descarte e morte.
A cura bacteriológica foi influenciada pelo tratamento com antibiótico e pelo número de lactações, sendo maior para as vacas tratadas com antibiótico do que as não tratadas. No entanto, essa diferença ocorreu somente nas vacas com mastite moderada, enquanto em vacas com mastite leve não houve diferença entre vacas tratadas ou não com antibiótico (Figura 1).